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São Marcelo Francesco Mastrilli e o Martelo

No inverno de 1623 em Nápoles, no dia 8 de dezembro, terminada a festa da Imaculada Conceição no Palácio Real de Nápoles os operários estavam desmontando o painel frontal do altar quando um deles deixou cair  do andaime um martelo de um quilo que atingiu a cabeça do padre Marcelo Mastrilli  deformando, parcialmente, o lado direito de seu rosto e afetando sua garganta. O impacto fez padre Marcelo  desmaiar de pronto. Não podemos mensurar a dor que sentiu, apenas que ele estava morrendo de fome e sede já que passados  vinte e um dias não conseguia engolir nada pois sua garganta fechou.  A dor é um poderoso elemento que promove a renovação fundamental para a ascese espiritual.[1] Ele,  ao receber a unção dos enfermos, na presença de seu superior padre Carlo di Sangre,  prometeu  partir para o Oriente como missionário caso ficasse curado.

Recentemente canonizado,  padre Marcelo era um jovem aristocrata de Nola (Itália) sendo seu pai Marquês de San Marzano. Sua mãe tentou impedir seu ingresso no seminário mas a influência dos tios,  professores no Colégio dos Jesuítas, prevaleceu. Naquela época era comum jovens de famílias nobres ingressarem no seminário e, com  frequência,  serem retirados à força do noviciado.

Ao receber o sacramento da unção dos enfermos,  padre Marcelo solicitou  uma imagem de São Francisco Xavier que foi  colocada sobre a cômoda de seu quarto. Nessa ocasião foi-lhe entregue uma pequena relíquia do santo que ele, de imediato, colocou sobre a garganta, pedindo a graça de poder comungar antes de morrer. De imediato, sentiu um conforto no local e pode comungar. Milagrosamente, seu rosto se recompôs após receber o sacramento, sem que a medicina na época pudesse compreender o que aconteceu. Logo após,  Marcelo e os acompanhantes presentes ouviram então uma voz:

– Marcelo, Marcelo…

Olhando para a direção da voz, Marcelo viu uma pessoa vestida com uma bata marrom que lhe diz:

– Pois bem, o que você quer fazer? Quer morrer ou partir como missionário para as Índias? Não lembra que ontem, na presença de seu superior, fizeste o voto de ir para o Oriente se Deus o curasse?

Padre Marcelo confirmou e o santo prosseguiu:

– Portanto, com alegria repita comigo os votos religiosos,  promessa feita inclusive com o pedido de martírio. Agora que sarou, agradece a Deus por um dom tão grande e, como sinal de adoração, beija as cinco chagas do crucifixo.

Espantando a todos, a pessoa desapareceu, deixando um odor de rosas no ambiente.  Passado dois dias padre Marcelo já estava celebrando a Santa  Missa e convencido ter recebido a visita de São Francisco Xavier.  Conforme acordado, partiu para o Oriente. Ao chegar em Goa viu que sua visão milagrosa já tinha se difundido.  A fama de Mastrilli precedeu  sua chegada a Goa já que a sua graça se espalhou pelo Oriente e ganhou a reputação de futuro santo.[2] Evangelizou por todo o Oriente e arrecadou  fundos para aquisição da caixa de prata onde  descansa o corpo de Xavier. A sua confecção, durou 20 meses, uma verdadeira obra prima da ourivesaria indo-portuguesa, contendo 32 baixo-relevos com cenas da vida de São Francisco Xavier. Mastrilli também coordenou a campanha para as custas da bula de canonização de Xavier e incentivou muito a devoção popular do Santo.  Foi incansável na missão por todo o Oriente.  E permaneceu durante três anos evangelizando no Japão, terminando   sendo submetido à tortura anatsurushi que consiste em ser suspenso de cabeça para baixo com a cabeça mergulhada num tanque cheio de água e de excrementos para atestar a aceitação da apostasia[3]; suportou o suplício e acabou degolado por não aceitá-la.

Os historiadores comentam que no momento de sua morte (17 de outubro de 1637 ) ocorreu um terremoto e escureceu o sol. Ele faleceu aos 34 anos torturado no Monte Unzen em Nagasaki, na regência de Tokugawa que tinha banido o cristianismo no ano de 1614.

Colaboração: Ubirajara de Carvalho (Membro do Apostolado da Oração)

[1] Prática que leva à efetiva realização da virtude.

[2] Bartoli, Danielo. Napoli.1671.

[3] A. Volpe.Una Vita per le Missioni. Archivum Historicum Societatis Iesus. Roma.1985.

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